Porque não precisamos ter um único estilo - e nem devemos


Algumas das perguntas que vejo com mais frequência no meio alternativo são: "gosto de isso que é diferente daquilo, como me encontrar?", "devo reformar todo o meu guarda-roupa?", "posso usar X estilo só esporadicamente?", "não posso usar Y todo dia, tem problema?" (essa questão de não poder usar todo dia já comentei sobre aqui). Não sei como chegamos à isso, mas existe um pensamento muito comum de que devemos pertencer à somente um único estilo, assinar um contrato de exclusividade e gostar de apenas uma única temática, um motivo, uma cor ou gênero musical, quando é completamente comum que seres humanos tenham gostos diversificados. Subculturas, que deveriam ser comunidades que unem as pessoas que se arriscam a desafiar padrões e normas sociais, se transformaram em ringues onde a briga entre egos acontece. Em algum momento da sua vida como alternativo você verá alguém se auto-denominando "mais X" que o outro (normalmente gótico) porque só escuta aquela música e veste tal roupa.

Ninguém precisa deixar de ouvir diva pop porque descobriu que gosta de punk rock. Você não precisa escolher entre estampa de cupcakes ou morcegos. Ninguém pode dizer que você não deve ter um moicano só porque veste lolita. David Bowie não precisou se manter fiel à um único estilo, por que você precisaria? Ele é um ícone que inspirou a cultura alternativa, e ainda assim a mesma contraria tudo o que ele fazia.


Como falei, é uma característica comum da mente humana ter a capacidade de se interessar por assuntos e temas diversos, não é nenhuma crise de personalidade ou bipolaridade. Em hipótese alguma alguém precisa escolher entre ser pinup e gótica (ou qualquer outro estilo), e se você listar todas as suas referências e interesses, provavelmente irá achar alguma semelhança entre elas e verá que poderá bater tudo no liquidificador. 

Quando criança, tudo o que era colorido, brilhante e "diferente" me enchia os olhos. Meu primeiro Halloween foi aos 2 anos de idade: uma amiga da minha tia foi até minha casa querendo me fantasiar de bruxa, com direito a batom preto e tudo o mais, e meus pais estavam certos de que eu me assustaria quando olhasse no espelho. Acabou que minha reação foi totalmente contrária ao esperado. Eu usei todo o batom azul que veio em um daqueles kits de maquiagem de criança, adorava comprar adesivos para o rosto, glitter e marabus, adorava quando via drag queens na TV, não vivia sem os filmes de princesa da Barbie e tentava reproduzir as roupas que eu via nas animações, apaixonada pelo apelo épico deles. Toda semana sonhava com uma profissão diferente, mas todas voltadas para a arte, e houve uma parte da minha infância em que eu queria muito aprender a tocar guitarra e ser punk rocker. Eu achava que iria me tornar uma música, bailarina, pintora, quadrinista e estilista de sucesso com cabelo colorido que também fazia drag e bicos de modelo - a própria Barbie. 

Se não fosse pelos meus pais e suas ideias preconceituosas, eu provavelmente teria me tornado punk de verdade. No final da minha infância e pré-adolescência, era uma vontade muito grande e fui intimidada porque meus pais faziam questão de me mostrar notícias na TV sobre punks que apanharam de skinheads nazi e vice-versa. Não muito depois, descobri a moda urbana japonesa e tudo mudou pra mim. Queria usar lolita porque a inspiração rococo e vitoriana no estilo me encantaram, mas era muito caro para mim (ainda é, com a diferença de que o estilo está mais popular então o acesso melhorou). Passei anos misturando referências de Harajuku e incorporando elementos de vários estilos de lá no meu dia-a-dia, até que decidi ser pinup aos 17 anos. 

Como podem ver no post sobre o FIQ, Harajuku ainda é muito presente na minha vida, não tenho medo em fazer várias cosias, e voltei a me aventurar no gyaru com foco nos anos 2000, além de que também sou uma fã roxa dos anos 90 e quero aproveitar agora o que eu não tive tempo de curtir (nasci em 98) e não surpreendentemente também adoro os 70, principalmente depois de assistir That '70's Show. Contei toda essa história só para dizer que, analisando meu histórico, quase todos os meus gostos se encaixam na moda de época. Eu vivo por brilhar e exagerar - como a Gwen Stefani na fase do No Doubt, Cyndi Lauper, a era disco, os mods, as burlescas, as dançarinas de charlerston e a Maria Antonieta. Todo mundo tem gostos diversos, mas eles se completam e encaixam de alguma maneira que só você consegue fazer funcionar e é isso que torna cada indivíduo único. Era assim que o Bowie conseguia ter mil faces sem parecer o cara do "Fragmentado". 


Não precisa se encaixar em um único estilo que gosta, você já se encontrou apenas por saber o que te chama a atenção. Misture tudo ou use um a cada dia. Tem dias em que não estou com a menor vontade de usar pinup e vou de 90's kid ou kawaii, outros em que não estou afim nem de olhar pra uma Hello Kitty e capricho no batom vermelho e victory roll. Não pretendo me limitar à nada e a minha única certeza é a de que eu quero sempre me destacar perto do que é considerado "normal".  Não coloque amarras no que deveria te libertar. 

Escute Depeche Mode e MC Loma também. Use rosa nas quarta-feiras e preto dos pés à cabeça na quinta. Seja uma femme fatale ou nada. Experimente, teste, dê uma chance ao que acha que não vai cair bem. Apesas faça o que tiver vontade. Só não seja chato, hahaha! E se alguém tentar confiscar sua carteirinha, faça a Lady Gaga e diga que nasceu assim.  

E isso é tudo, pessoal! Espero que o post seja válido pra reflexão. Quais os seus estilos favoritos e como os incorpora no seu dia-a-dia? Deixem um comentário contando!

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